Onde estavam as mulheres negras na luta pelo direito ao voto?
do sufrágio feminino
90 anos
COLAGEM: ALMA PRETAtexto original: CAROLINE NUNESPOR: Giovanne ramos
Há 90 anos, em 24 de fevereiro de 1932, as mulheres brasileiras conquistaram o direito ao voto através do Decreto nº21.076, que garantia às mulheres acima de 21 anos votar e serem votadas em todo o Brasil.
imagem/reprodução: arquivo nacional
Conhecido como Sufrágio Brasileiro, o movimento buscava efetivamente que as mulheres tivessem os mesmos direitos eleitorais cedidos aos homens. Mas as mulheres negras não foram incluídas.
REPRODUÇÃO: arquivo nacional
A decisão de 1932 afirmava que somente mulheres alfabetizadas poderiam votar e, em um Brasil pós-abolição, essa não era uma realidade para todas as mulheres negras.
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Na Constituição de 1934, a obrigatoriedade do voto foi estendida apenas às mulheres que fossem servidoras públicas. Em 1946, passou a ser para ambos os gêneros. Somente em 1985 analfabetos foram incluídos.
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A socióloga e professora Najara Costa afirma que a onda feminista, sob a lógica da hegemonia branca, não tratava das especificidades das pautas de luta das mulheres negras.
ARQUIVO PESSOAL NAJARA COSTA
Inclusive, em 1932, essas mulheres viviam em situação de extrema dificuldade e sem qualquer política de integração. A sociedade começava a excluir negros e incorporar mão de obra de imigrantes brancos europeus.
FOTO/REPRODUÇÃO: MARIO APPELIUS (1842-1948)
- Najara Costa, ativista e ex-candidata à Prefeitura de Taboão da Serra.
“No entanto, é necessário afirmar que houve, sim, a participação de mulheres negras no movimento político pelo Sufrágio Brasileiro, embora tenhamos tido o apagamento sistemático dessas importantes vozes”.
ARQUIVO PESSOAL NAJARA COSTA
Uma das mulheres negras que lutaram no período sufragista foi Almerinda Farias Gama, que compôs a condição de delegada na eleição de representantes para a Constituinte, aprovada em 1934.
foto: arquivo Cpdoc/Fundação Getúlio Vargas
Almerinda também se candidatou à deputada federal e, apesar de não ser eleita, abriu caminhos para a existência política de outras mulheres negras nos espaços de institucionalidade.
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Um outro exemplo é Antonieta de Barros que, em 1934, foi eleita em Santa Catarina a primeira deputada estadual negra da história do Brasil. E foi a dona do projeto de lei que criou o dia do professor.
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Outro ponto do Sufrágio Brasileiro é que, enquanto para as feministas brancas o objetivo era garantir o direito ao voto feminino, para as mulheres negras a luta era para garantir trabalho digno e comida na mesa.
foto/reprodução: januario garcia
É muito simbólico que a mulher negra, que teve participação de extrema importância no processo da conquista do voto feminino, não tenha o reconhecimento merecido.
foto: arquivo Cpdoc/Fundação Getúlio Vargas
Mesmo Almerinda sendo representante classista, a única mulher a votar e a ser votada, seu nome foi apagado da história, enquanto o rosto de Bertha Lutz é um dos associados ao Sufrágio Brasileiro.
foto/reprodução: arquivo nacional
As mulheres negras não foram as únicas historicamente colocadas em segundo plano quando o assunto era a participação política feminina no Brasil. Haviam também indígenas, nordestinas e pobres.
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- Gleibe Pretti, professor de sociologia da Estácio São Paulo.
“O que faltou para as mulheres negras da época, e acomete, infelizmente, o Brasil até hoje, é a falta de espaço e oportunidade, algo que deve ser efetivamente combatido”.
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