Ativista, artista e intelectual, Abdias do Nascimento rompeu a barreira racial no teatro brasileiro e transformou a arte em um espaço político para a população negra
UM ESPÍRITO LIBERTADOR
ABDIAS
texto original: fERNANDA ROSÁRIOPOR: DINDARA PAZ
Escritor, economista, artista plástico e ativista, Abdias do Nascimento é considerado um dos mais completos intelectuais brasileiros e foi pioneiro ao reivindicar a arte como um espaço político para a população negra no país
fotografia: Luiz Paulo Lima
Nascido em março de 1914 em Franca, São Paulo, Abdias era neto de africanos escravizados e filho de um pai sapateiro e uma mãe doceira. Durante sua trajetória, se engajou no combate ao racismo e ao genocídio contra a população negra
imagem: Acervo IPEAFRO
Quando pequeno, Abdias viu um menino negro ser agredido por uma mulher branca. Ao presenciar a cena, a mãe de Abdias saiu em defesa do garoto, fato este que o marcou por toda a vida
"Cumpri aquilo que ela me ensinou naquele momento: a solidariedade com os meus irmãos de origem e a minha revolta contra a injustiça e a violência”
Pós-graduado em Estudos Brasileiros, Abdias questionou o lugar dos negros na arte e, em 1944, fundou o Teatro Experimental Negro (TEN), primeira entidade de artistas negros voltada para valorizar a cultura afro-brasileira e a conscientização racial
fotografias: acervo ipeafro
Em suas produções artísticas, Abdias trouxe o protagonismo das religiões africanas, como o candomblé, com produções que romperam com o aspecto folclórico e superficial atribuídos às manifestações de matriz africana
fotografias: acervo ipeafro e folhapress
vídeo: itaú cultural- Abdias Nascimento
"A minha pintura tenta captar o que existe nas mais profundas camadas da cultura negra no Brasil ou em qualquer parte onde o negro tenha desempenhado um papel significativo na sua formação cultural”
Abdias foi alvo da Ditadura Militar e ficou 13 anos exilado nos EUA e Nigéria, países onde difundiu a cultura afro-brasileira. Ao retornar ao Brasil, em 1981, fundou o IPEAFRO, responsável por preservar o acervo do Museu de Arte Negra e pela promoção de atividades antirracistas
fotografia: Abelardo B. Alves Neto/Acervo Ipeafro
O ativista também atuou no campo político como deputado federal, senador da República e secretário do governo do estado do Rio de Janeiro
fotografia: Agência Senado e Acervo IPEAFRO
Na sua trajetória, incluiu a pauta racial como uma causa suprapartidária e foi pioneiro ao defender e apresentar ações afirmativas em prol da população negra, como a criação da Fundação Cultural Palmares
"Existe uma matança organizada de negros em São Paulo e no Rio de Janeiro. É um verdadeiro escândalo como se mata negros neste país e ninguém diz nada. Parece que é uma coisa natural a matança de negros”
O ativista também participou da fundação do Movimento Negro Unificado (MNU) e ajudou a criar o Memorial Zumbi, organização que reunia entidades pela promoção dos direitos civis e humanos da população negra
Muitos foram os feitos de Abdias para o povo negro e a sua trajetória foi essencial para trazer o protagonismo africano na sociedade. Seja pelas suas obras e livros, o legado de Abdias ultrapassa gerações e até hoje escancara o obscurantismo por trás da face do racismo no país
fotografia: divulgação
vídeo: Cultne- Abdias Nascimento
"O racismo que realmente destrói a vitalidade de um povo, que usurpa os direitos de um povo, é esse que atua no Brasil”
vídeo: Cultne- Abdias Nascimento
"Esse racismo mascarado, sutil e que não dá direito à vítima a sua própria auto-defesa”
DESIGN
IMAGENS
TEXTOS
Vinícius de AraujoAlma Preta Jornalismo/ Luiz Paulo Lima/ Acervo IPEAFRO/ Vantoen Pereira Júnior/ FolhaPress/ Itaú Cultural/ Agência Senado/ CULTNE