Você sabia que os aplicativos de relacionamento podem ser excludentes para pessoas negras? Estudos revelam que esses apps podem ser desiguais a respeito das preferências para um encontro.
Pesquisas também comprovam que a tecnologia pode ser uma aliada do racismo nos apps de relacionamento. Os algoritmos e o design dessas ferramentas fortalecem a construção de uma padronização do desejo.
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Esses espaços acabam por se tornar um campo minado que pode unir ao mesmo tempo expectativas e rejeições, afetando diretamente a autoestima de pessoas negras que buscam novos relacionamentos.
Pedro Vó/Agência Pública
Pesquisadores da Universidade Cornell, nos EUA, concluíram que os aplicativos de encontros não deveriam dispor de mecanismos que permitam remover pessoas diferentes.
FOTO: ESTUDAR FORA
Uma das justificativas é que a ação de encontrar alguém pelo acaso, proposta destes aplicativos - na teoria - pode ser perdida quando as pessoas conseguem estabelecer uma relação de “filtragem” dos perfis.
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Os estudiosos reforçam que os aplicativos são responsáveis por moldar, em seus funcionamentos, as decisões afetivas. Isso fortalece a cultura da busca de um “ideal padronizado” de alguém para namorar.
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A tecnologia também é outro fator que deve ser observado. Baseado em escolhas anteriores, o algoritmo prevê novas preferências e reduz as chances de tipos diversos de perfis serem mais divulgados.
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Em conversa com a Alma Preta Jornalismo, a jornalista baiana Lorena Ifé, diz acreditar que os aplicativos de relacionamento já conhecidos endossam à exclusão ou a preferência maior por corpos não-negros.
LORENA IFÉ POR ÁTILA COLIN
- LORENA IFÉ, "PESQUISADORA DO AMOR", COMO SE APRESENTA
"A maioria são apps tipo jogo de baralho, que você descarta a pessoa. Para nós, pessoas negras, o descarte já é uma realidade em várias esferas sociais.” - Lorena Ifé, ‘pesquisadora do amor’, como se apresenta".
Para Lorena, o amor nunca foi pauta para vivências de pessoas pretas, alguns acreditam até mesmo ser desnecessário. Mas o seu sonho é investir em um app de relacionamento exclusivo para pessoas negras.
ARTE: VINICIUS DE ARAÚJO/ALMA PRETA
A ideia de criação de um app realizado por Lorena parte de um projeto que já rende há cinco anos, o “Afrodengo”, um grupo no Facebook com mais de 54 mil pessoas com o foco da busca por um ‘dengo negro’.
PRINT DO PERFIL AFRODENGO
Motivado pelo livro ‘Vivendo de Amor’, de bell hooks e sua vivência, o grupo é destinado exclusivamente a pessoas negras, um espaço de resgate de identidade e fortalecimento dos laços afroafetivos.
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A psicóloga pernambucana Raphaella Maia pontua que é preciso compreender como corpos negros são levados a construir os seus desejos e a se projetarem.
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Para a especialista em sexologia, antes da compreensão sobre afetividade, sexualidade e sensibilidade, é necessária uma reflexão identitária antes de buscar, em espaços como os aplicativos, encontros afetivos.
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- RAPHAELLA MAIA
"Precisamos deixar de lado a busca pelos perfis ‘inalcançáveis’ e trabalharmos o medo de não sermos escolhidos. O foco é nos perguntarmos: como estamos buscando nossos afetos enquanto pessoas pretas?"
Ainda de acordo com a profissional, embora os aplicativos sejam uma boa possibilidade de conhecer pessoas novas, se não houver preparo e autoconhecimento prévio, podem causar adoecimento mental.
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Vinícius de Araujo I'sis AlmeidaAlma Preta Jornalismo/Freepik/Agência Pública/Estudar Fora/Arquivo pessoal de Átila Colin/Afrodengo/Editora Monstro dos Mares/ Instagram @falaprettaapsi/Giovanne Ramos Victor Lacerda