As religiões e cultos acabam por sofrer mudanças em suas estruturas ao longo do tempo, sobretudo influenciadas pelas transformações da sociedade, o que pode levar ao sincretismo.
O fenômeno ocorre quando as doutrinas podem incorporar manifestações e crenças de outras religiões, porém, sem deixar suas características básicas originais.
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No entanto, a Doutora em Ciência da Religião Cláudia Alexandre explica que há equívocos na interpretação do que vem a ser sincretismo religioso, em especial, quando relacionado aos cultos africanos.
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- cláudia alexandre
“Politicamente, o termo sincretismo remete à opressão, demonização, violência e dominação”.
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A doutora ressalta que o sincretismo é um fenômeno social. Embora no Brasil seja associado diretamente ao contexto das religiões brasileiras ou de matrizes africanas, o fenômeno ocorre em todas as religiões.
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- Daniel Pereira, Babalorixá
“Quando nossos ancestrais foram trazidos à força, foram obrigados a adotar a fé do colonizador. Mesmo assim, deram um jeito de praticar seus costumes e crenças”
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Daniel pondera ainda que, como o povo escravizado recebia a religião cristã compulsoriamente, era necessário esconder ou disfarçar suas práticas religiosas.
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- DANIEL PEREIRA
“Dessa forma, inteligentemente, fingiram adotar os santos católicos mas, na verdade, seguiram cultuando as divindades africanas”.
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- CLÁUDIA ALEXANDRE
“O exemplo mais conhecido foi o de associar os santos católicos aos orixás. Vale dizer que esse ‘jogo’ representava muito mais resistência do que transformar uma coisa na outra”.
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O babalorixá Daniel ressalta que, neste ponto, é importante separar o Candomblé da Umbanda. Segundo ele, a segunda é uma religião brasileira sincrética em sua essência, o que a diferencia do Candomblé.
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- DANIEL PEREIRA
“O culto da umbanda aglutina elementos do cristianismo católico, do candomblé, pois as sete linhas são regidas pelos orixás, e também indígenas, com o culto aos caboclos”.
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Já o candomblé brasileiro seria a união de diversos cultos praticados em África, formado a partir do culto implementado por 3 mulheres africanas: Iyá Detá, Iyá Kalá e Iyá Nasó Oká.
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Para Daniel, é necessário compreender a importância do sincretismo religioso como forma de resistência na época do Brasil Colônia, mas o sacerdote acredita que isso não é mais necessário no candomblé atual.
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Cláudia Alexandre salienta que o sincretismo religioso é um dos fenômenos que sempre vai apontar para um período não superado do processo histórico brasileiro: a escravidão.
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Portanto, segundo ela, dentre os mecanismos de dominação utilizados para subjugar a população negra está a demonização das práticas tradicionais dos povos africanos.
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Daniel destaca que falas como "orixá é energia" e "orixá tem a cor que eu quiser" trazem em si um componente racista forte. É afirmar que a divindade é do jeito que o colonizador quer para cultuá-la.
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Um exemplo do que o líder religioso diz é a figura de Yemanjá, personificada como mulher branca, de cabelos lisos e longos. No entanto, “se Yemanjá é orixá, não há nenhuma dúvida: Yemanjá é negra” - Claudia.
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Daniel finaliza dizendo que é necessária a retomada da consciência racial e a descolonização das mentes dos candomblecistas para evitar que, a partir do sincretismo, o racismo desestruture o culto aos orixás.
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